O fim se inicia

Contos

Ele tinha certeza que o fim do mundo havia começado bem ali, ao lado de seu apartamento, às duas da manhã de uma quinta-feira.

Primeiro as explosões pareciam distantes e vagas, como se fosse um sonho, mas aos poucos foram se aproximando e traziam consigo ondas de choque que faziam o prédio inteiro tremer. Pedro acordou em um pulo quando ouviu o estrondo de algo caindo, muito provavelmente, próximo à sua rua. Olhou para o lado e viu Alice, sua esposa, que já havia acordado também, com os olhos arregalados agarrando-se aos lençóis enquanto outra onda de choque balançava as paredes igual em um terremoto.

“O que tá acontecendo?” Ela conseguiu perguntar por cima do barulho de uma explosão distante. Pedro não sabia responder, estava tão perdido quanto ela. Se levantou e abriu as cortinas para dar de cara com pessoas gritando e correndo nas ruas. Ele olhou para o céu mas não encontrou um avião que, talvez, seria a fonte das bombas. Uma fumaça preta e sufocante subia, vinda da cidade e cobria quase todo o ar.

A primeira coisa que passou pela sua cabeça foi que havia começado uma guerra, mas por algum motivo, o cenário não parecia condizer com o de uma guerra. O ar estava estático e estranho e pode ver no horizonte outra explosão.

“Vem Alice, vamos dar o fora daqui!” foi o que conseguiu gritar enquanto olhava ao redor e percebera que a maioria dos prédios nos arredores já haviam se desfeito em pilhas de concreto e ferro torcido. Ele não tinha a menor ideia do porquê ou como o seu prédio ainda estava de pé, mas com certeza não seria por muito tempo porque outra explosão aconteceu muito próxima dali. A construção tremeu assustadoramente, puderam ouvir o metal que sustentava a estrutura ranger.

Alice levantou-se e foi para junto de Pedro, já imaginando que eles teriam que pular pela sacada. Sorte que moravam no segundo andar. “Tenta não se desesperar, amor, me segue”. Pedro foi primeiro, conseguiu cair em cima do toldo que cobria a garagem e de lá pular para o chão. Alice ainda hesitante foi logo em seguida.

Eles precisavam pensar rápido, mas o raciocínio parecia travar em meio a tanto caos. Começaram a correr junto com muitas outras pessoas na rua, sem rumo, como formigas morrendo para uma lupa. O pânico já havia se instaurado nos arredores, lojas estavam sendo invadidas e o supermercado da vizinhança já estava em ruínas. Algumas pessoas tentavam catar alimentos espalhados entre os destroços para usarem como mantimentos.

Outra explosão bem próxima fez os pelos da nuca de Pedro se arrepiarem com a adrenalina e sua audição virar um zunido. Foi tão perto de onde estavam que uma grossa nuvem de poeira se levantou, limitando a visão do casal. Alice não soltava sua mão, ambos corriam como podiam tentando não trombar em outras pessoas. Ouviram tiros não muito longe dali e Alice, que estava se segurando até o momento, não aguentou e começou a chorar. Pedro queria abraçá-la e dizer que tudo ficaria bem, mas nem ele mesmo acreditava nisso.

Eles precisavam se proteger. Mas onde? Livres da poeira, Pedro avistou várias pessoas descendo para a estação de metrô que ficava no final da avenida. Um bom lugar para se proteger de explosões seria o subterrâneo, pensou. Ele segurou firmemente os dedos de Alice entre os seus e disse “Vamos nos proteger na estação”. Ele conseguiu gritar por cima dos berros e barulhos ao redor deles e Alice, ainda fungando e chorando, assentiu. As pernas já estavam doendo com a velocidade em que corriam, mas com toda adrenalina no sangue mal sentiam.

Quando chegaram na estação, que já abrigava algumas dezenas de pessoas, uma bomba pareceu cair bem acima do local, que chacoalhou e fez as luzes piscarem até ficarem fracas. “Será que os trens estão passando?” Alice perguntou no ouvido de Pedro. Parecia uma pergunta idiota, mas ele entendeu a linha de raciocínio dela. Os trilhos eram a principal rota de fuga. Precisavam continuar se movimentando e sair daquela parte da cidade, podia parecer loucura, mas era a única chance que tinham.

De repente, todos ficaram quietos. Algo se arrastava por onde a bomba havia acabado de cair, bem acima deles. Era um barulho estranho, tipo metal respirando e carne estalando em sons secos e até perturbadores. A coisa se locomovia lentamente e todos prenderam a respiração, assustados demais para fazer qualquer barulho e serem descobertos.

Era algum tipo de invasão alienígena? Uma rebelião de maquinas? O ser demorou bons minutos até atravessar toda a avenida em que ficava a estação de metrô. Pedro ficou impressionado com o fato do teto não ceder em suas cabeças, porque aquilo parecia pesar toneladas. Ele olhou para Alice e o semblante da mulher estava exatamente como o de todos ali: rosto pálido e olhos arregalados de medo. Um murmúrio baixo começou entre as pessoas dali:

“Temos que sair daqui” “Aqui não é seguro” “Será que já destruiu outras cidades também?” “Será que já destruiu o mundo?” “O exército está fazendo algo?” “Estou sem sinal nenhum no celular” “Vamos morrer de fome se ficarmos aqui” “Vamos seguir pela linha do metrô”

Parece que todos concordaram, silenciosamente, que a melhor opção seria continuar andando pelos trilhos até conseguirem sair em uma estação bem longe da coisa que havia se afastado. Grande parte do grupo – pois algumas pessoas decidiram ficar para trás – saltou para os trilhos. Alguns usavam os celulares como lanternas, pois era impossível ver mais do que alguns palmos à frente.

Tentavam manter um bom ritmo de caminhada e andaram por algumas horas, que mais pareceram anos. Os pés de Alice e Pedro já começavam a sangrar, uma vez que não tiveram tempo de calçar sapatos antes de fugirem do lugar que chamaram por tantos anos de “lar”. A medida que se aproximavam da próxima estação, alguns corpos  humanos começaram a aparecer pelo caminho, esburacados iguais à peneiras, mas não por disparos de balas.

Alice se agarrou no braço de Pedro, desesperada, quando voltaram a ouvir a respiração metálica. A origem do som estava se aproximando assustadoramente rápido, vindo de exatamente de onde estava a próxima estação. Pedro fechou os olhos por um instante e fez uma pequena prece silenciosa “Que Deus nos ajude”.

5 thoughts on “O fim se inicia

  1. Vixi, será que eles se salvam? Isso deveria ser o primeiro capítulo para podermos seguir a saga dessa história. Uma coisa é certa alguém vai descobrir como eliminar isso ou essa coisa, pelo menos nos filmes é assim que ocorre, rssss. 😉

    Like

Leave a comment