Fifth Harmony uma vez disse “you don’t gotta go to work, work work, but you gotta put in work, work, work” e isso é lindo

Crônicas

Em toda minha vida, jamais tive a intenção de trabalhar remotamente. Sempre pensei comigo mesma que não teria a disciplina necessária para isso, sabe? Esse negócio de conseguir separar 100% de quando é hora de focar no serviço, quando é hora de fazer uma pausa e quando é hora de descansar jamais esteve muito claro para mim. Se você consegue fazer isso, parabéns, toma aqui o seu certificado de “pessoa que sabe o que está fazendo com a própria vida”. Porém, após alguns meses adentro do famoso home office, me vejo dividida em muitos prós e contras. Sendo muito sincera com você, para cada pro tem um contra, praticamente. Pela primeira vez, me vi lidando com coisas que eu jamais lidaria em um ambiente de trabalho comum.

FAQ (Frequently Asked Questions)

Crônicas

Eu, às vezes, penso no porquê. Por que estamos aqui? Por que as coisas estão como estão? Por que nascemos? Por que as pessoas estão menos humanas? Por que não percebemos? Por que é tão fácil deixar pra lá? Por que ninguém entende? Por que a desigualdade continua? Por que não tem comida para todos? Por que é tão complicado? Por que as pessoas boas sofrem? Por que precisamos descansar? Por que o homem não foi pra lua de novo? Por que os presidentes não vão para as guerras? Por que dinheiro é mais importante? Por que lutamos? Por que deixamos de lutar?

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Contos

Jandira adquiriu um hábito estranho com o passar dos anos: ela andava olhando para o chão e poucas vezes ela erguia a cabeça. Porém, não era problema de timidez, muito pelo contrário, Jandira sempre puxava assunto com alguém, seja na fila da farmácia ou no ponto de ônibus. Veja bem, o que acontecia na verdade, era que ela olhava para o chão à procura de dinheiro.

Uma vez achou uma nota de vinte reais na calçada que por pouco não passou despercebida, a danada estava presa no matinho que crescia ao lado do asfalto. Desde então, ela se perguntou quanto dinheiro já perdera por andar sem olhar para o chão. Às vezes, no final do dia, ficava com dor no pescoço, mas a mesma se curava instantaneamente quando encontrava uns trocados perdidos por aí.

O fim se inicia

Contos

Ele tinha certeza que o fim do mundo havia começado bem ali, ao lado de seu apartamento, às duas da manhã de uma quinta-feira.

Primeiro as explosões pareciam distantes e vagas, como se fosse um sonho, mas aos poucos foram se aproximando e traziam consigo ondas de choque que faziam o prédio inteiro tremer. Pedro acordou em um pulo quando ouviu o estrondo de algo caindo, muito provavelmente, próximo à sua rua. Olhou para o lado e viu Alice, sua esposa, que já havia acordado também, com os olhos arregalados agarrando-se aos lençóis enquanto outra onda de choque balançava as paredes igual em um terremoto.

“O que tá acontecendo?” Ela conseguiu perguntar por cima do barulho de uma explosão distante. Pedro não sabia responder, estava tão perdido quanto ela. Se levantou e abriu as cortinas para dar de cara com pessoas gritando e correndo nas ruas. Ele olhou para o céu mas não encontrou um avião que, talvez, seria a fonte das bombas. Uma fumaça preta e sufocante subia, vinda da cidade e cobria quase todo o ar.

A parte incompreensível da vida

Contos

Os ponteiros do relógio da parede da cozinha marcavam três e quarenta da manhã e lá estava Ana esquentando no micro-ondas um copo de café que havia feito na tarde do dia anterior. Era sábado, mas ela não conseguia pregar o olho desde que soube que Seu Josias, vizinho do apartamento ao lado, havia se matado.

Ana estava num estado inquieto já há quase uma semana e olheiras roxas e grandes já se penduravam feiamente abaixo de seus olhos. Ela sabia que tomar café não era o melhor remédio para a insônia, mas era melhorar virar a noite acordada e trabalhando do que ficar deitada na cama sem conseguir dormir, pensando no pobre senhor.

Doutor Leseira Begins

Contos

Eu odeio sonhar que estou batendo em alguém. Não por eu ser contra a violência, mas pelo fato de que, em todos os sonhos desse tipo, eu soco e chuto extremamente devagar. Não importa se eu estou certo ou errado no sonho, não adianta, não consigo lutar. Uma vez li que isso acontece porque o cérebro não consegue reproduzir algo que nunca realizou, tipo socar alguém. Porém, eu lembro perfeitamente do dia que quebrei o nariz de um moleque da sétima série porque ele estava implicando com um cara deficiente – que pelo menos parecia ser – e lembro perfeitamente de como os nós dos meus dedos ficaram roxos igual a desgraçada depois daquilo, então essa teoria simplesmente não faz sentido.

Condicional

Contos

Era quase nove e meia quando Jonas chegou na reunião. Atrasado, como sempre.

Haviam mudado o local de encontro e isso não colaborou nada com sua pontualidade, que já era uma merda. A partir daquela reunião, passariam a se encontrar na quadra de uma escola pública em Laranjeiras. No momento, o local estava organizado especialmente para recebê-los com cadeiras brancas de plástico e uma mesinha com café aguado e biscoitos de Maisena.

Teoria de múltiplos universos colocada em prática

Contos

No universo 02, eles se conheceram como amigos de amigos do dono de uma festa. Ela havia levado vodka e ele pizza. Chegaram a conversar por poucos minutos enquanto escolhiam a próxima música que começaria a tocar, por fim decidiram por R U Mine? do Arctic Monkeys, unanimemente. Quando a festa acabou, cada um foi para sua casa e não se falaram mais, a despedida foi breve e desajeitada. Ele não era sagaz o suficiente para entender a conotação sexual da frase “você poderia ir na minha casa depois pra ouvirmos mais música” dita por ela um tanto alterada pelo álcool. Infelizmente, ele era péssimo em flertar.